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Pasto digital, vaca feliz, carne ‘verde’: startups da pecuária querem mitigar aquecimento global [ESTADÃO]

Ecotrace no Estadão, publicado em 18 de abril de 2024.

Leia a matéria na íntegra no PDF.

 

Foco de empresas de tecnologia é reduzir emissões de gases de efeito estufa da agropecuária, enquanto eficiência na produção cresce.

Responsável por 25% do Produto InternoBruto (PIB) do Brasil, a agropecuária tem uma grande missão: aderir em peso à descarbonização. Em 2022, o setor manteve-se como o segundo maior emissor de gases de efeito estufa no Brasil, correspondendo a 26% dos lançamentos totais no território brasileiro, de 64% vem da pecuária, cujo gado emite o metano, um dos gases que mais contribuem para o aquecimento do planeta. Reduzir esses números, ou até zerar, portanto, é essencial para a sustentabilidade do setor- e as startups nacionais estão trabalhando para que isso
aconteça.

Na pecuária “verde”, uma das estratégias mais adotadas é buscar o aumento da eficiência. Isso porque, ao apostar em melhor uso de terra e de gestão do gado, é possível crescer a produtividade sem explorar mais terras — prática que também é responsável pelas emissões dos gases de efeito estufa, correspondendo a 48% do que é lançado na atmosfera do País, segundo a SEEG. Ou seja, desmatar florestas (geralmente, para criar mais gado) é a principal causa do problema brasileiro, enquanto a criação de bois e vacas é a segunda.

Mapa da carne

A startup Ecotrace, criada em 2018 por Flávio Redi em Vinhedo (SP), é uma das agritechs brasileiras em mais rápida ascensão e com um modelo de negócio já conhecido no mercado internacional: rastreamento de insumos na cadeia produtiva. Em outras palavras, a companhia atesta a origem de um item e verifica seu trajeto de sustentabilidade em toda a indústria. No mercado da pecuária, é possível cravar se uma carne é “verde” — ou seja, de uma área legalizada e com respeito ao bem-estar animal, por exemplo. Para fazer a rastreabilidade, a startup utiliza o “cartório da internet”: o blockchain. A tecnologia é capaz de atestartransações e registrar patentes de forma segura, sem permitir que sejam alteradas as informações protocoladas na base de dados. Atualmente, o blockchain é muito utilizado no mercado de criptomoedas (como o bitcoin), mas o caráter seguro da ferramenta permite utilizá-lo para outros fins — como na agropecuária.

“O blockchain é uma tecnologia madura e confiável o suficiente para dar garantia sobre a origem de um item”, explica Maria Paula possível acompanhar, e registrar na plataforma de blockchain, o nascimento do animal na fazenda, o trajeto até o frigorífico, o abate, o processo de industrialização, distribuição e quaisquer outros passos até a venda na gôndola do mercado. Para as empresas e até consumidores, isso torna possível não só rastrear a origem de um item de maneira individualizada, bem como até encontrar falhas ou acidentes na cadeia produtiva. Por exemplo, quando uma carne vem de um local com casos de vaca louca ou gripe aviária. Ou, ainda, checar se veio de uma área desmatada. “É possível ver a história de um produto de maneira muito fácil”, diz a executiva.

 

“Está se formando uma conjuntura favorável para o nosso negócio.”
Maria Paula Castro
diretora de operações da Ecotrace

 

Esse negócio vem dando certo para a Ecotrace. De 2020 até hoje, a startup saiu de 6 para 40 funcionários (e ainda busca funcionários para preencher vagas em aberto). Além disso, ela vem entrando em diferentes mercados além da carne bovina, como rastreabilidade de frango e de algodão, com um total de 25 clientes nessas indústrias. Agora, a startup está em busca de investidores interessados em acelerar o crescimento pelo País, onde ainda não há um grande nome nesse mercado de rastreabilidade agropecuária.
“A pressão por sustentabilidade trouxe bastante visibilidade para nós, porque se começou a ter compromissos públicos assumidos por grandes empresas comprometidas com não comercializar produtos de origem socioambiental problemática”, explica Maria Paula. A rastreabilidade vem se tornando uma demanda para governos mundo afora. A União Europeia, por exemplo, vem se debruçando sobre esse tema e quer acabar, até 2025, com a importação de carne bovina vinda de áreas de desmatamento — o que afeta o Brasil “As marcas não querem ter seus nomes atrelados a isso. Então, está se formando uma conjuntura favorável para o nosso negócio”, completa a diretora da Ecotrace.

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