São comuns as especulações sobre o valor do blockchain, sendo que o Bitcoin – a primeira e mais infame aplicação do blockchain –, vem ganhando manchetes por seu preço e volatilidade vertiginosos. O fato de o foco do blockchain estar enredado com o Bitcoin não é surpreendente, já que o valor de mercado deste último subiu de menos de US$ 20 bilhões para mais de US$ 200 bilhões ao longo de 2017. No entanto, o Bitcoin é apenas a primeira aplicação da tecnologia blockchain que chamou a atenção do governo e da indústria.
O blockchain foi um tema prioritário em Davos; uma pesquisa do Fórum Econômico Mundial indicou que 10% do PIB mundial será armazenado em blockchain até 2027. Vários governos publicaram relatórios sobre as potenciais implicações do blockchain e, apenas nos últimos dois anos, houve mais de meio milhão de novas publicações e 3,7 milhões de resultados de pesquisa no Google para blockchain.
O mais revelador é que estão sendo feitos grandes investimentos no blockchain. O financiamento de capital de risco para startups de blockchain cresceu de forma constante e chegou a US$ 1 bilhão em 2017. Modelo de investimento de específico do blockchain, as ofertas iniciais de moeda (ICOs) – vendas de tokens de criptomoeda em um novo empreendimento – saltaram para US$ 5 bilhões. Os principais players do setor de tecnologia também estão investindo pesadamente no blockchain: a IBM tem mais de 1.000 funcionários e US$ 200 milhões investidos em Internet das Coisas (IoT) baseada em blockchain.
Apesar da euforia, o blockchain ainda é uma tecnologia imatura, com um mercado ainda incipiente, e ainda não surgiu uma receita clara de sucesso. Devido à experimentação não estruturada de soluções de blockchain, sem avaliação estratégica do valor em jogo ou da viabilidade de captá-lo, muitas empresas não obterão retorno de seus investimentos. Tendo isso em mente, como as empresas podem determinar se existe valor estratégico no blockchain que justifique grandes investimentos?
Nossa pesquisa busca responder a essa questão, avaliando não apenas a importância estratégica do blockchain para os principais setores, como também quem pode captar que tipo de valor através de que tipo de abordagem. Uma análise profunda, setor por setor, aliada a entrevistas com especialistas e empresas, revelou mais de 90 casos de uso distintos do blockchain, de maturidades variadas, nos principais setores (ver quadro interativo).
Avaliamos e testamos o impacto e a viabilidade de cada um desses casos de uso para entender melhor o valor estratégico geral do blockchain e como captá-lo.
Nossa análise indica os seguintes três insights principais sobre o valor estratégico do blockchain:
- O blockchain não precisa ser um desintermediador para gerar valor, fato que incentiva aplicações comerciais com acesso autorizado.
- O valor de curto prazo do blockchain estará predominantemente na redução de custos, antes de criar modelos de negócios transformadores.
- Ainda faltam três a cinco anos para o blockchain adquirir viabilidade em escala, principalmente devido à dificuldade de resolver o paradoxo da “coopetição” para estabelecer padrões comuns.
As empresas devem adotar a seguinte abordagem estruturada em suas estratégias de blockchain:
1)Identificar o valor avaliando, de forma pragmática e cética, o impacto e a viabilidade em um nível granular e concentrando-se em abordar os verdadeiros pontos problemáticos com casos de uso específicos em setores selecionados.
2)Capturar valor adaptando as abordagens estratégicas de blockchain à sua posição no mercado, levando em consideração medidas como a capacidade de moldar o ecossistema, estabelecer padrões e lidar com barreiras regulatórias.
Com a abordagem estratégica correta, as empresas podem começar a obter valor no curto prazo. Os players dominantes, capazes de estabelecer seus blockchains como as soluções de mercado, devem fazer grandes apostas agora.
Elementos básicos do blockchain
Com toda a euforia em torno do blockchain, pode ser difícil definir os fatos precisamente (Quadro 1). O blockchain é um livro-razão distribuído – ou base de dados distribuída –, compartilhado através de uma rede de computação pública ou privada. Cada nó de computador da rede contém uma cópia do livro-razão; portanto, não há um ponto de falha único.
Cada informação é criptografada matematicamente e adicionada como um novo “bloco” à cadeia de registros históricos. Vários protocolos de consenso são usados para validar um novo bloco com outros participantes, antes que ele possa ser adicionado à cadeia.
Isso evita fraudes ou gastos duplicados, sem precisar de uma autoridade central. O livro-razão também pode ser programado com “contratos inteligentes”, um conjunto de condições registradas no blockchain, para que as transações sejam acionadas automaticamente quando as condições forem atendidas. Por exemplo, os contratos inteligentes podem ser usados para automatizar pagamentos de sinistros de seguros.
As principais vantagens do blockchain são descentralização, segurança criptográfica, transparência e imutabilidade. Ele permite que as informações sejam confirmadas e que valores sejam trocados sem depender de uma autoridade externa.
Em vez de haver uma forma única de blockchain, a tecnologia pode ser configurada de diversas maneiras para atender aos objetivos e requisitos comerciais de um caso de uso específico.
Para dar alguma clareza à variedade de aplicações do blockchain, estruturamos os casos de uso em seis categorias, nas suas duas funções fundamentais – manutenção de registros e transações (Quadro 2). Alguns setores têm aplicações em várias categorias, enquanto outros se concentram em apenas uma ou duas. Essa estrutura, juntamente com outras análises no nível dos setores e no dos casos de uso, levou a nossos principais insights sobre a natureza e a acessibilidade do valor estratégico do blockchain.
Três insights principais sobre o valor estratégico do blockchain
Nossa análise revelou algumas lições importantes sobre o blockchain.
O blockchain não precisa ser um desintermediador para gerar valor
Os benefícios da redução da complexidade e do custo das transações, bem como melhorias na transparência e nos controles de fraude, podem ser captados por instituições existentes e transações entre diversas partes usando a arquitetura de blockchain apropriada. Os incentivos econômicos de captar oportunidades de valor estão levando os players tradicionais a tirar proveito do blockchain, em vez de serem ultrapassados por ele. Portanto, o modelo comercial com maior probabilidade de sucesso no curto prazo é o blockchain com acesso autorizado, e não o blockchain público. Blockchains públicos, como o Bitcoin, não têm uma autoridade central e são considerados facilitadores da desintermediação disruptiva total. Blockchains com acesso autorizado são hospedados em redes de computação privadas, com acesso e direitos de edição controlados (Quadro 3).
O blockchain privado e com acesso autorizado permite que empresas grandes e pequenas comecem a obter valor comercial de implementações do blockchain. Os players dominantes podem manter suas posições de autoridades centrais ou unir forças com outros players da indústria para capturar e compartilhar valor. Os participantes podem obter o valor de compartilhar dados com segurança, enquanto automatizam o controle do que é compartilhado, com quem e quando.
Para todas as empresas, os blockchains com acesso autorizado permitem que propostas de valor distintas sejam desenvolvidas em sigilo comercial, com experimentação em pequena escala antes de serem ampliadas. Entre os casos de uso atuais está a Bolsa de Valores da Austrália, para a qual está sendo implantado um sistema de blockchain para compensação de ações, a fim de reduzir o trabalho administrativo de conciliação para seus corretores membros. A IBM e a Maersk Line, maior companhia de transporte de carga do mundo, estão estabelecendo uma joint venture para levar ao mercado uma plataforma de comércio com blockchain. O objetivo da plataforma é proporcionar aos usuários e players envolvidos nas transações de transporte de carga globais uma troca segura e em tempo real de dados e documentação de supply chain.
O potencial do blockchain para se tornar um novo protocolo de padrão aberto para registros, identidade e transações confiáveis não pode ser simplesmente descartado. A tecnologia blockchain pode solucionar a necessidade de haver uma entidade responsável por gerenciar, armazenar e financiar uma base de dados. Modelos peer-to-peer verdadeiros podem se tornar comercialmente viáveis devido à capacidade do blockchain de recompensar os participantes por suas contribuições com tokens (criptoativos específicos da aplicação), além de dar-lhes uma participação em futuros aumentos de valor. No entanto, a mudança de mentalidade necessária e a disrupção comercial que esse modelo acarretaria são imensas.
Se os players da indústria já tiverem adaptado seus modelos operacionais para obter grande parte do valor do blockchain e, crucialmente, repassar esses benefícios a seus consumidores, a abertura para estreantes radicais será pequena. O grau de adaptação e integração da tecnologia blockchain pelos playerstradicionais será o fator determinante na escala da desintermediação no longo prazo.
No curto prazo, o valor estratégico do blockchain está principalmente na redução de custos
O blockchain pode ter potencial disruptivo para ser a base de novos modelos operacionais, mas seu impacto inicial será o de aumentar as eficiências operacionais. O custo pode ser retirado dos processos existentes, removendo os intermediários ou o esforço administrativo de manutenção de registros e conciliação de transações. Isso pode mudar o fluxo de valor, ao captar receitas perdidas e criar novas receitas para prestadores de serviços de blockchain. Com base em nossa quantificação do impacto monetário dos mais de 90 casos de uso que analisamos, calculamos que aproximadamente 70% do valor em questão no curto prazo está na redução de custos, seguido pela geração de receitas e pelo alívio de capital (Quadro 4).
As funções fundamentais de certos setores são inerentemente mais adequadas às soluções blockchain, sendo que os seguintes setores captam o maior valor: serviços financeiros, governo e saúde. As funções centrais dos serviços financeiros – confirmação e transferência de informações e ativos financeiros
– alinham-se muito bem ao impacto transformador do blockchain.
Os principais pontos problemáticos atuais, particularmente nos pagamentos internacionais e no financiamento do comércio internacional, podem ser resolvidos por soluções baseadas em blockchain, que reduzem o número de intermediários necessários e independem da localização geográfica. Economias adicionais podem ser obtidas na liquidação pós-negociação no mercado de capitais e nos relatórios regulamentares. Essas oportunidades de valor se refletem no fato de que aproximadamente 90% dos principais bancos australianos, europeus e norte-americanos já estão experimentando ou investindo em blockchain.
Assim como no caso dos bancos, as principais funções de confirmação e manutenção de registros dos governos podem ser habilitadas a obter grandes economias administrativas pela infraestrutura do blockchain. Os dados públicos ficam muitas vezes isolados em silos, sem transparência entre os órgãos governamentais e com relação a empresas, cidadãos e organizações de proteção. Ao lidar com dados que vão de certidões de nascimento a impostos, os contratos inteligentes e registros baseados em blockchain podem simplificar as interações com os cidadãos, ao mesmo tempo que aumentam a segurança dos dados. Muitas aplicações do setor público, como registros de identidade baseados em blockchain, serviriam como importantes soluções e padrões viabilizadores para a economia como um todo. Mais de 25 governos estão executando ativamente pilotos de blockchain apoiados por STARTUPS.
Nos serviços de saúde, o blockchain pode ser a chave para liberar o valor da disponibilidade e da troca de dados entre prestadores, pacientes, seguradoras e pesquisadores. Os registros de saúde baseados em blockchain podem não apenas facilitar o aumento da eficiência administrativa, como também dar aos pesquisadores acesso a conjuntos de dados históricos sem identificação dos pacientes, que são cruciais para os avanços na pesquisa médica. Os contratos inteligentes podem dar aos pacientes maior controle sobre seus dados e até mesmo a capacidade de comercializar o acesso a dados.
Por exemplo, os pacientes poderiam cobrar das empresas farmacêuticas o acesso ou uso de seus dados na pesquisa de medicamentos. O blockchain também está sendo combinado com sensores de IoT para garantir a integridade do cold chain (logística de armazenamento e distribuição a baixas temperaturas) de medicamentos, sangue e órgãos.
Com o tempo, o valor do blockchain passará da redução de custos à viabilização de modelos de negócios e fluxos de receita inteiramente novos. Um dos casos de uso mais promissores e transformadores é a criação de uma identidade digital distribuída e segura – tanto para a identidade do consumidor quanto para o processo comercial “conheça seu cliente” – e os serviços associados a ela. No entanto, os novos modelos de negócios que isso criaria são uma possibilidade de longo prazo devido às atuais restrições de viabilidade.
É provável que a viabilidade em escala só ocorra em três a cinco anos
O valor estratégico do blockchain só será concretizado se soluções comercialmente viáveis puderem ser implementadas em escala.
Nossa análise avaliou cada um dos mais de 90 casos de uso potenciais com relação aos quatro fatores principais que determinam a viabilidade de um caso de uso em um determinado setor: padrões e regulamentos, tecnologia, ativo e ecossistema (Quadro 5). Embora muitas empresas já estejam experimentando, a escala significativa somente deverá ocorrer daqui a três a cinco anos, por diversos motivos.
Padrões comuns são essenciais
A ausência de padrões comuns e regulamentos claros é uma limitação importante da escalabilidade das aplicações do blockchain. No entanto, onde há forte demanda e compromisso, o trabalho já está em andamento para resolver esse problema. Os padrões podem ser estabelecidos com relativa facilidade quando há um único player dominante ou um órgão governamental capaz de impor a situação legal. Por exemplo, os governos poderiam transformar os registros imobiliários de blockchain em registros legais.
Quando é necessária a cooperação entre múltiplos players, o estabelecimento desses padrões torna-se mais complexo, mas também mais essencial. Grandes avanços já foram feitos por consórcios da indústria, como visto no consórcio R3, formado por mais de 70 bancos internacionais que colaboraram para desenvolver a Corda, plataforma de blockchain de código aberto de nível financeiro. Essas plataformas poderiam estabelecer os padrões comuns necessários para sistemas blockchain.
Em termos globais, os órgãos reguladores assumiram posições variadas, mas a maioria está envolvida, não está se opondo. Por exemplo, o reconhecimento, pela Comissão de Valores Mobiliários e Câmbio dos Estados Unidos, das ICOs como títulos colocou-as sob a regulamentação da agência e trouxe-as para o mercado convencional. Em 2017, a Standards Austrália assumiu uma posição de liderança no desenvolvimento de um roteiro de prioridades em nome da Organização Internacional de Normalização (ISO) e ajudou a estabelecer a terminologia comum como um primeiro passo fundamental. Até agora, muitos governos estão seguindo uma abordagem regulamentar tecnologicamente neutra – sem promover nem proibir tecnologias específicas, como o blockchain.
A tecnologia deve avançar
A relativa imaturidade da tecnologia blockchain impõe um limite à sua viabilidade atual. A concepção errônea de que o blockchain não é viável em escala devido a seu consumo de energia e sua velocidade de transação é uma confusão que se faz entre Bitcoin e blockchain. Na realidade, as configurações técnicas são uma série de opções de projeto nas quais os ajustes de velocidade (tamanho do bloco), segurança (protocolo de consenso) e armazenamento (número de notários) podem ser selecionados de modo a tornar a maioria dos casos de uso comercialmente viáveis. Por exemplo, na Estônia, os registros de saúde ainda estão em bases de dados “fora da cadeia” (ou seja, não armazenados em blockchain), mas o blockchain é usado para identificar, conectar e monitorar esses registros de saúde, bem como quem pode acessá-los e alterá-los. Devido a esses conflitos, o desempenho do blockchain pode ficar abaixo do ideal para as bases de dados tradicionais nesta fase, mas as restrições vêm diminuindo com o rápido desenvolvimento da tecnologia.
A imaturidade da tecnologia blockchain também aumenta os custos de mudança, que são consideráveis levando-se em conta todos os outros componentes do sistema. As organizações precisam de uma solução empresarial confiável, particularmente porque a maioria dos benefícios de custo só será materializada quando os sistemas antigos forem desativados. Atualmente, poucas startups têm estabilidade tecnológica e credibilidade suficientes para implantação em escala no governo ou na indústria. Os principais players de tecnologia estão se posicionando fortemente para tratar essa lacuna com suas próprias ofertas de blockchain como serviço (BaaS), em um modelo semelhante ao armazenamento na nuvem.
É necessário que os ativos possam ser digitalizados
O tipo de ativo determina a viabilidade de melhorar a manutenção de registros ou de fazer transações via blockchain e determina se as soluções de ponta a ponta requerem a integração de outras tecnologias. O fator-chave aqui é o potencial de digitalização do ativo; ativos como ações, que são gravados e transacionados digitalmente, podem ser simplesmente gerenciados de ponta a ponta em um sistema blockchain ou integrados a sistemas existentes por meio de interfaces de programação de aplicativos (APIs).
No entanto, conectar e fixar bens físicos a um blockchain requer tecnologias viabilizadoras, como IoT e biometria. Essa conexão pode ser uma vulnerabilidade na segurança de um livro-razão de blockchain porque, embora o registro do blockchain possa ser imutável, o item físico ou o sensor de IoT ainda podem ser adulterados. Por exemplo, certificar a cadeia de custódia de commodities como grãos ou leite exigiria um sistema de marcação como a identificação por radiofrequência, que aumentaria a garantia fornecida, mas não ofereceria procedência absoluta.
O paradoxo da coopetição deve ser resolvido
A natureza do ecossistema é o quarto fator-chave porque define a massa crítica necessária para que um caso de uso seja viável. A maior vantagem do blockchain é o efeito de rede, mas, embora os benefícios potenciais aumentem com o tamanho da rede, o mesmo acontece com a complexidade da coordenação. Por exemplo, uma solução blockchain para mídia digital, licenças e pagamentos de royaltiesexigiria uma enorme coordenação entre os vários produtores e consumidores de conteúdo digital.
Os competidores naturais precisam cooperar, e esse paradoxo da coopetição é que está se mostrando o elemento mais difícil de solucionar no caminho para adoção em escala. A questão não é identificar a rede – ou mesmo obter uma adesão inicial –, mas sim concordar com as decisões de governança sobre como o sistema, os dados e os investimentos serão conduzidos e gerenciados. Superar essa questão geralmente exige que um patrocinador, como um órgão regulador ou setorial, assuma a liderança. Além disso, é essencial que os incentivos estratégicos dos players estejam alinhados, tarefa que pode ser particularmente difícil em mercados bastante fragmentados. A massa crítica é muito menor em alguns setores e aplicações do que em outros, enquanto, em alguns casos, precisam ser estabelecidas redes entre os setores para obter benefícios substanciais.
Que abordagem estratégica as empresas devem adotar?
Nossa pesquisa e os insights emergentes sugerem seguir uma abordagem estruturada para responder às questões clássicas da estratégia comercial do blockchain.
Onde competir: concentre-se em casos de uso específicos e promissores
Existe uma infinidade de casos de uso para o blockchain; as empresas enfrentam uma tarefa difícil ao decidir quais oportunidades seguir. No entanto, elas podem restringir suas opções adotando uma abordagem estruturada através de uma lente de ceticismo pragmático. A primeira etapa envolve determinar se há valor acessível suficiente em jogo para um determinado caso de uso. As empresas só podem evitar a armadilha de desenvolver uma solução sem um problema se investigarem rigorosamente os verdadeiros pontos problemáticos – os atritos para os clientes que o blockchain poderia eliminar.
A identificação de pontos problemáticos específicos permite a análise granular do valor comercial potencial dentro dos limites da viabilidade geral da solução de blockchain. As características gerais do setor, bem como a expertise e os recursos de uma empresa, influenciarão ainda mais essa decisão, já que as empresas precisam entender as nuances de todos esses componentes para decidir qual caso de uso gerará um bom retorno do investimento. Se um caso de uso não atingir um nível mínimo de viabilidade e retorno potencial, as empresas nem precisarão cogitar a segunda etapa da estratégia de blockchain a adotar.
Como competir: otimize a estratégia de blockchain com base na posição de mercado
Uma vez que as empresas tenham identificado casos de uso promissores, elas devem desenvolver suas estratégias com base na avaliação de suas posições de mercado em relação aos casos de uso que têm em vista. Muitos dos fatores de viabilidade já discutidos estão dentro da esfera de influência de uma empresa; até mesmo restrições de tecnologia e de ativos podem ser gerenciadas através de trade-offs e de uma série de opções de projeto para moldar uma solução viável. Portanto, a abordagem estratégica ideal de uma empresa com relação ao blockchain será definida fundamentalmente pelos dois fatores de mercado a seguir, que são aqueles que elas têm menor capacidade de afetar:
- domínio do mercado – a capacidade de um playerde influenciar as partes principais de um caso de uso;
- padronização e barreiras regulatórias – o requisito de aprovações regulamentares ou coordenação de padrões.
Esses dois fatores são cruciais para determinar a abordagem estratégica ideal de uma empresa porque são essenciais para alcançar a coordenação necessária (Quadro 6). O valor do blockchain vem de seus efeitos de rede e interoperabilidade, e todas as partes precisam concordar quanto a um padrão comum para obter esse valor – múltiplos blockchains em silos oferecem pouca vantagem sobre várias bases de dados isoladas. À medida que a tecnologia se desenvolva, um padrão de mercado surgirá e os investimentos no padrão não dominante serão desperdiçados.
Como competir: otimize a estratégia de blockchain com base na posição de mercado
Uma vez que as empresas tenham identificado casos de uso promissores, elas devem desenvolver suas estratégias com base na avaliação de suas posições de mercado em relação aos casos de uso que têm em vista. Muitos dos fatores de viabilidade já discutidos estão dentro da esfera de influência de uma empresa; até mesmo restrições de tecnologia e de ativos podem ser gerenciadas através de trade-offs e de uma série de opções de projeto para moldar uma solução viável. Portanto, a abordagem estratégica ideal de uma empresa com relação ao blockchain será definida fundamentalmente pelos dois fatores de mercado a seguir, que são aqueles que elas têm menor capacidade de afetar:
- domínio do mercado – a capacidade de um playerde influenciar as partes principais de um caso de uso;
- padronização e barreiras regulatórias – o requisito de aprovações regulamentares ou coordenação de padrões.
Esses dois fatores são cruciais para determinar a abordagem estratégica ideal de uma empresa porque são essenciais para alcançar a coordenação necessária (Quadro 6). O valor do blockchain vem de seus efeitos de rede e interoperabilidade, e todas as partes precisam concordar quanto a um padrão comum para obter esse valor – múltiplos blockchains em silos oferecem pouca vantagem sobre várias bases de dados isoladas. À medida que a tecnologia se desenvolva, um padrão de mercado surgirá e os investimentos no padrão não dominante serão desperdiçados.
Essa avaliação da posição de mercado de uma empresa indicará qual das quatro abordagens estratégicas distintas do blockchain deverá ser implementada e, ademais, refinará ainda mais em qual tipo de caso de uso se concentrar primeiro.
Líderes
Os líderes devem agir agora para manter suas posições no mercado e aproveitar a oportunidade de definir os padrões do setor. Como players dominantes que buscam casos de uso com menos exigências de coordenação e aprovação regulatória, eles podem estabelecer soluções de mercado.
O maior risco para essas empresas é a inação, que as faria perder a oportunidade de fortalecer suas vantagens competitivas em relação aos concorrentes. Um exemplo de líder que segue essa estratégia é a Change Healthcare, uma das maiores empresas independentes de TI de saúde dos Estados Unidos, que lançou um blockchain de saúde em escala corporativa para processamento e pagamento de sinistros.
Agregadores
Os agregadores precisam conduzir as conversas e os consórcios que estão moldando os novos padrões que causarão disrupção em seus negócios atuais. Apesar de serem players dominantes, eles não são capazes, isoladamente, de dirigir a adoção do blockchain, pois enfrentam maiores barreiras regulatórias e de padronização. Por outro lado, podem se posicionar para moldar e captar o valor dos novos padrões de blockchain.
Táticas de agregação devem ser usadas em casos de uso de alto valor – como financiamento de comércio exterior – que não podem ser realizados sem um conjunto de padrões amplamente compartilhado. Um exemplo de agregador que segue essa estratégia é a Toyota, cujo Research Institute criou o Blockchain Mobility Consortium com quatro parceiros globais para focar em soluções de blockchain para fatores essenciais de aceleração dos veículos autônomos: compartilhamento de dados, transação peer-to-peer e seguro baseado no uso.
Seguidores
Os seguidores também devem avaliar e implementar meticulosamente uma estratégia de blockchain apropriada. A maioria das empresas não tem a capacidade de influenciar todas as partes necessárias, especialmente quando as aplicações de blockchain exigem alta padronização ou aprovação regulatória. Essas empresas não podem estar alheias às inovações do mercado – elas devem acompanhar de perto os desenvolvimentos do blockchain e estar preparadas para agir rapidamente para adotar padrões emergentes. Assim como as empresas desenvolveram estruturas legais e de risco para adotar serviços baseados na nuvem, elas devem se concentrar no desenvolvimento de uma estratégia para implementar e adotar a tecnologia blockchain.
Ser um seguidor é uma estratégia particularmente arriscada no caso do blockchain, dada a probabilidade de players selecionados de um setor estabelecerem redes privadas de acesso autorizado, como no transporte de carga, por exemplo. Um seguidor, por mais rápido que seja, já pode estar excluído do clube exclusivo que estabeleceu a prova de conceito inicial. As empresas podem reduzir esse risco unindo-se a consórcios existentes e emergentes logo no início, quando os custos de investimento na associação, no curto prazo, são menores do que os custos de ficar para trás, no longo prazo.
Atacantes
Os atacantes geralmente são estreantes no mercado sem uma participação de mercado existente a proteger; portanto, precisam buscar soluções blockchain e modelos de negócios disruptivos ou transformadores. As abordagens dos atacantes são adequadas para casos de uso com o maior potencial disruptivo por meio da oferta, ao mercado, de um serviço que desintermediaria os players existentes. A maioria as aplicações peer-to-peer, de finanças a seguros e propriedade, enquadra-se nessa categoria. Um exemplo de atacante que segue essa estratégia é a startupaustraliana PowerLedger, um mercado peer-to-peer de energia renovável que arrecadou 34 milhões de dólares australianos em sua ICO.
Os players tradicionais devem implementar uma estratégia blockchain de atacante em uma atividade digital separada que não esteja entre suas atividades principais. Os provedores de blockchain como serviço (BaaS) costumam adotar uma estratégia de ataque porque estão vendendo os serviços para setores dos quais não são participantes atualmente – e causando disrupção nesses setores. As empresas que seguem uma estratégia de atacante costumam buscar parcerias com uma empresa dominante no mercado para alavancar sua influência na liderança.
Os insights de nossa análise indicam que, euforia à parte, o blockchain tem valor estratégico para as empresas, permitindo a redução de custos sem desintermediação, bem como, a longo prazo, a criação de novos modelos de negócios. A infraestrutura digital existente e o crescimento das ofertas de blockchain como serviço (BaaS) diminuíram os custos da experimentação, e muitas empresas estão sondando o terreno. No entanto, fatores fundamentais de viabilidade delimitam o que pode ser escalado e quando, bem como as escalas de tempo realistas para o retorno sobre o investimento na prova de conceito.
A avaliação desses fatores com ceticismo pragmático quanto à escala do impacto e à rapidez de colocação no mercado revelará a abordagem estratégica correta de onde e como competir para permitir que as empresas comecem a obter valor no curto prazo. De fato, os players dominantes capazes de estabelecer seu blockchain como a solução de mercado deveriam estar fazendo os movimentos – e fazendo-os agora.
Fonte: https://www.mckinsey.com.br/our-insights/blockchain-beyond-the-hype-what-is-the-strategic-business-value]]>