Ecotrace transforma rastreabilidade de commodities do agro com blockchain, IA e visão computacional

Startup está investindo R$ 4 milhões para incorporar sua solução de rastreabilidade para tornar transparente o processo produtivo da proteína animal com certificação halal, voltada ao mercado muçulmano

Por Fabiana Rolfini | 01/07/2025 06h01

Em 2050, espera-se que a população mundial atinja cerca de 9,7 bilhões de pessoas, de acordo com um relatório das Nações Unidas. O aumento expressivo em relação aos 7,7 bilhões de habitantes atuais vai trazer desafios para todos os setores, principalmente ao agronegócio, que deve despontar ainda mais para atender à alta demanda.

Diante desta realidade, a rastreabilidade de commodities é crucial para o setor no Brasil, garantindo a origem e o percurso dos produtos ao longo da cadeia produtiva, desde o campo até o consumidor final. E à medida que alguns países tendem a intensificar suas exigências por transparência e sustentabilidade nas cadeias produtivas, a prática se tornou fator decisivo para o sucesso agro do país no mercado internacional.

Foi de olho neste cenário que Flavio Redi vislumbrou uma oportunidade de montar um negócio que pudesse se expandir globalmente e fundou, em 2018, a Ecotrace, agtech que faz a rastreabilidade ponta a ponta de commodities com tecnologia baseada em blockchain e visão computacional. Isso foi depois de vender a sua primeira startup, a Gestão Agropecuária, que era mais focada dentro da propriedade rural, fazendo a gestão do gado.

“Começamos a operação rastreando carne bovina, que era o network que eu já tinha, e rapidamente expandimos para frango, algodão e couro”, afirma Redi. Segundo dados da empresa, no ano passado foram rastreados 33 milhões de bovinos, 88 milhões de frangos e 40 milhões fardos de algodão.

Blockchain, IA e visão computacional

Para explicar como funciona a tecnologia da Ecotrace, Redi dá como exemplo o rastreamento da carne bovina. Quando o animal chega na indústria frigorífica, com ele vem uma documentação, o Guia de Trânsito Animal (GTA) e uma nota fiscal, que dá a garantia de onde veio. Munida dessa documentação, a IA da startup roda algoritmos para fazer o compliance socioambiental.

Sobre a Ecotrace — Foto: Arte Época NEGÓCIOS

“Checamos se a propriedade de onde veio o animal não teve desmatamento de 2008 adiante, conforme o código florestal; se ela não está dentro de terra indígena ou de uma unidade de conservação; se não há problemas com o Ibama, entre outras verificações”, detalha o CEO. Passado esse compliance, é gerado um laudo que em seguida é publicado no blockchain. O produto então entra no processo industrial, é embalado e vendido para o varejo.

“Costumo dizer que a gente tem um monte de tomadinha que vamos plugando no importador, exportador e no varejo, e fazemos o track de tudo. Para o consumidor final, todo o histórico de um produto pode ser conferido por um QR Code nas embalagens”, acrescenta.

Dentre os atuais clientes da empresa estão gigantes como JBS, Swift, Seara e Minerva Foods. No algodão, o principal cliente é a Lojas Renner.

Nova subsidiária para atender o mercado halal

Em 2025, a Ecotrace deu mais um passo em sua expansão com uma nova subsidiária dedicada ao segmento halal, que abrange o abate de aves e bovinos voltado para o mercado islâmico. Segundo Redi, a denominada EcoHalal está incubada no Cubo Itaú, em São Paulo, mas com uma pessoa do comercial sediada no Egito para apresentar a solução mundo afora.

A companhia está investindo R$ 4 milhões para incorporar a solução de rastreabilidade baseada em blockchain, IA e visão computacional para tornar transparente o processo produtivo da proteína animal com certificação halal — a rastreabilidade é crucial para a certificação das proteínas halal. Além do método de abate, este selo leva em conta o bem-estar animal, manejo correto dos resíduos, condições de trabalho dignas, alimentação dos animais, embalagem e transporte.

“Esse é um mercado muito promissor para nós, que já movimenta trilhões de dólares globalmente. Para se ter ideia, a certificação halal é tão confiável que até importadores da China estão pedindo”, diz o CEO da Ecotrace.

Halal é uma palavra árabe que significa lícito ou permitido e refere-se a tudo o que é aprovado pela lei islâmica (Sharia). No contexto da alimentação, o abate halal é um processo ritual que garante que a carne seja permitida para consumo pelos muçulmanos De acordo com o sistema de leis islâmico, somente alimentos que seguem algumas “regras” são permitidos por Deus.

Até agora, a startup levantou um total de R$ 10 milhões, somando investimento-anjo, da KPTL e via crowdfunding pela Captable. Com valuation de R$ 58 milhões, a Ecotrace projeta para este ano manter o crescimento de 40% registrado nos últimos anos.

Pesquisar