O Brasil é um dos maiores exportadores de carne bovina do mundo, atendendo mercados exigentes como União Europeia, China, Estados Unidos e países do Oriente Médio. Em 2024, o país exportou cerca de 2,29 milhões de toneladas de carne bovina in natura, movimentando mais de US$ 10,5 bilhões, segundo dados da ABIEC (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes).
Neste cenário competitivo, a qualidade da carcaça se torna um diferencial estratégico — e dois parâmetros técnicos se destacam: conformação muscular e acabamento de gordura.
Por que esses critérios são tão importantes?
A conformação refere-se à proporção e ao desenvolvimento muscular do animal, especialmente em áreas nobres. Já o acabamento de gordura diz respeito à camada subcutânea que reveste a carcaça, impactando diretamente na conservação da carne, no sabor, na suculência e no rendimento industrial.
Segundo Flávio Redi, CEO da Ecotrace, “quando falamos em carcaças para exportação, dois fatores são fundamentais e caminham juntos: conformação e acabamento. A conformação diz respeito ao desenvolvimento muscular — aquelas carcaças mais cheias, de perfil arredondado, indicam mais carne de qualidade. Já o acabamento de gordura, idealmente entre 6 e 10 mm, é muito mais do que estética: ele protege a carne contra desidratação, oxidação e perda de coloração, mantendo sua qualidade até chegar ao consumidor. Na prática, uma boa combinação desses dois indicadores garante não só um produto de alto padrão, mas também maior valorização na hora da venda, já que influencia diretamente na classificação e no preço da carne no mercado.”
Carcaças com melhor conformação e acabamento geralmente são classificadas em categorias superiores, o que resulta em maior valor comercial para o produtor e mais competitividade para a indústria.
Em resumo, são parâmetros fundamentais para avaliar o rendimento da carcaça, orientar decisões produtivas e atender exigências dos mercados internacionais.
Impactos comerciais
Mercados como o europeu, halal e kosher exigem padrões rigorosos de qualidade, e carcaças com acabamento inadequado ou conformação irregular podem ser desclassificadas ou vendidas a preços inferiores. A China, por exemplo, tem preferência por cortes dianteiros com bom marmoreio e uma capa de gordura ajustada.
Um levantamento da Embrapa aponta que carcaças bem tipificadas podem alcançar até 20% a mais de valor comercial, dependendo do destino e do nível de padronização exigido.
O desafio da padronização nas indústrias
Apesar da importância desses parâmetros, grande parte dos frigoríficos ainda realiza análises visuais manuais, sujeitas à subjetividade, inconsistência e erros humanos. Isso compromete a padronização e dificulta o controle de qualidade em escala industrial.
É nesse contexto que a tecnologia vem transformando o setor. Por meio de visão computacional e inteligência artificial (IA), já é possível analisar carcaças com alta precisão e velocidade, padronizando critérios técnicos e gerando dados confiáveis.
Soluções como a da Ecotrace aplicam IA para analisar, em menos de um segundo, o grau de acabamento de gordura e a conformação muscular de cada carcaça, além de outros indicadores importantes. Os dados gerados são integrados à rastreabilidade do animal, criando laudos padronizados, auditáveis e alinhados com as exigências dos principais mercados.
Rastreabilidade e valorização da cadeia
Mais do que tipificar a carcaça, integrar essas análises com sistemas de rastreabilidade ponta a ponta permite monitorar e aprimorar toda a cadeia produtiva. Isso cria um ciclo virtuoso:
- O produtor entende quais manejos e dietas resultam em melhores carcaças;
- O frigorífico reduz perdas e aumenta a previsibilidade;
- O importador recebe um produto mais padronizado, seguro e com histórico verificado.
“O futuro da exportação brasileira de carne bovina passa pela tecnologia. Tipificação automatizada com IA, integrada à rastreabilidade em blockchain, garante transparência, consistência e vantagem competitiva nos mercados internacionais”, conclui Flávio Redi.